“Com 24 anos, poder representar a seleção portuguesa foi o ponto mais alto até ao momento, uma sensação extraordinária.”
Davide Moura, de 38 anos, foi convidado do programa da Linha Lateral da Rádio Alto Tâmega FM. Encerrou a sua carreira enquanto jogador no final da temporada transata, ao serviço do Vitulano Drugstore C5 Manfredonia, emblema da Itália. Apesar de terminar a carreira como jogador, a sua vida vai continuar ligada ao futsal, uma vez que será coordenador técnico, treinador principal dos sub-19 e diretor técnico dos sub-15 e 17 do Manfredonia.
Davide,
natural de Beça, no concelho de Boticas, numa altura em que não havia camadas
jovens na modalidade de futsal, optou pelo futebol e foi ao serviço do GD
Boticas que cumpriu grande parte da sua formação. Em 2005, Davide deixa o
futebol para ingressar no futsal sénior do GD Boticas, sob comando do técnico de
António Marinho.
Ao
longo da sua carreira passou por clubes como GD Boticas, SC Braga, Ourense FS,
AD Fundão/Hotel Alambique, Kazma SC, ASD Luparense, Gyori ETO, Al-Yarmouk, Real
Rieti, Feldi Eboli, 360GG, Monastir Kosmoto e Manfredonia C5.
Da
rua para as quadras
“Como
todos os miúdos na altura, jogava à bola na rua. Tive oportunidade de jogar no GD
Boticas, no futebol, nas camadas jovens, entretanto, em 2005 começo a fazer a
pré-época no GD Chaves e por coisas que acontecem na vida, foi impossível ficar
em Chaves a treinar, embora estivesse a estudar. Deixei o futebol e pela mão do
mister António Marinho dá-se a minha entrada, de novo, no GD Boticas, neste
caso no futsal e aí começa tudo.”
Chamada
à Seleção Nacional, pela primeira vez
Em
2009, regressa a Boticas, oriundo de Espanha, onde esteve dois anos ao serviço
do Ourense FS. Em 2011, é chamado pela primeira vez à Seleção Nacional, Davide
explica como tudo aconteceu: “Acabam os dois anos em Espanha, volto para
Boticas, que, entretanto, tinha garantido a subida à primeira divisão, pela mão
do presidente Paulo Aleixo. Depois de uma época muito boa que fizemos, no
final, há uma convocatória da seleção e o Joel Queiroz, que era atleta do SL
Benfica, tinha-se lesionado naquele fim-de- semana, não pode dar o seu
contributo, o selecionador Jorge Braz, entendeu que devia de ser eu a fazer a
primeira internacionalização, aqui pertinho de casa, em Vila Pouca. Com 24 anos
poder representar a seleção portuguesa foi o ponto mais alto até ao momento,
uma sensação extraordinária. (…) Estreei-me em Trás-os-Montes, a jogar pela
equipa que me formou, pela equipa da terra, um misto de emoções, todas
positivas.”.
Jogar
ao lado do melhor jogador de futsal português de todos os tempos e ser treinado
pelo transmontano, cinco vezes melhor selecionador do mundo, Jorge Braz
Durante
o seu estágio na seleção nacional, Davide Moura teve oportunidade de treinar
com os melhores jogadores portugueses, entre eles, Ricardinho. “Tive a
felicidade de poder jogar com ele na seleção e contra ele a nível de clubes e
obviamente é um fora de série, de outra galáxia.”, afirmou Davide Moura. Para
além de contar com craques, enquanto colegas, o jogador botiquense foi
orientado por Jorge Braz, vencedor do prémio de melhor selecionador do mundo
por cinco vezes consecutivas. Davide Moura explica a sensação: “A verdade é que
quando nós entramos neste contexto de treino, no que diz respeito à seleção, há
muito pouco tempo para se trabalhar. Tenho muito boa relação com o Jorge, mas é
pouco tempo. Nós fazíamos algumas concentrações durante o ano, em que não havia
jogos e fazíamos cinco unidades de treino, quando havia jogos treinávamos três
vezes e jogávamos duas. Não há tempo para se ver o que é trabalhar com o Jorge
Braz, se houvesse um contexto de Campeonato de Mundo, como há agora, em que se
está junto em preparação quatro ou cinco semanas, aí sim, eu podia dar uma
opinião do que era trabalhar com o Jorge. Naqueles dias que estávamos juntos,
não há nada a dizer, a competência dele estava lá, o que aconteceu foi que as
taças vieram para cá, vieram para Portugal”.
Três
épocas de alto nível ao serviço do AD Fundão/ Hotel Alambique
Depois
do regresso a Boticas e da chamada à seleção nacional, Davide Moura transferiu-se
para o Fundão, onde esteve por três temporadas. O próprio fez uma reflexão
sobre esta jornada: “Foram três anos muito bons, quer a nível desportivo, quer
a nível pessoal, passei muito bons momentos, dentro e fora de campo, no Fundão.
Na terceira época, que começamos o campeonato de uma maneira muito má, chegamos
a dezembro, estávamos, como se costuma dizer, com a corda na garganta e de
repente há um ‘volte-face’ dentro da equipa, sem haver qualquer tipo de reforço
ou alteração de regras, começamos a ganhar, a ganhar, criou-se uma espiral
positiva dentro do balneário. Nos oitavos-de-final da taça, quando entram as
equipas da primeira divisão, o sorteio dita-nos o Sporting CP, em Loures, fomos
a Lisboa, ganhámos e eliminámos o Sporting, nos penalties. Na liga, em casa,
conseguimos empatar com o Benfica, conseguimos empatar com o Sporting, criou-se
um alto astral na nossa equipa, que foi um avião, que quando está a descolar
não há forma de o parar.”.
Adaptação
ao médio oriente
Com
passagens em Portugal e em Espanha, Davide Moura, na temporada 2014/2015,
aceita um novo desafio e ruma ao Koweit, para representar o Kazma SC. A viver
num país completamente diferente de Portugal, Davide explicou como foi a sua
adaptação, “(…) mudou tudo, foi um choque tremendo, é verdade que já tinha
passado muito tempo fora de casa, ou seja, saí de Boticas fui para Braga,
depois para Espanha, entretanto para o Fundão, mas depois fui para o Médio Oriente,
onde há um choque cultural, um choque a nível desportivo, porque vinha de uma
estrutura semiprofissional do Fundão, a jogar e a treinar a nível muito alto e
depois o Koweit mostra-me uma perspetiva diferente do que é a cultura árabe,
muçulmana, um país construído no meio do deserto, tenho que obrigatoriamente
aprender a falar inglês, porque não sabia praticamente nada, tinha que aprender
para me comunicar com alguém. Fui muito bem recebido pela parte dos
koweitianos, com muita desorganização na liga, mas que no final do ano,
conseguimos o título inédito, naquele ano, para o Kazma, um ano que deu
continuidade aquilo que estava a fazer, a jogar a um nível alto, a competir
muito e bem e a continuar a somar títulos, porque tinha ganho a Taça de
Portugal, no Fundão e mais um campeonato no Koweit.”
Do
Koweit para Itália, para jogar no ASD Luparense
Apenas
um ano depois no médio oriente, Davide Moura regressa à Europa, mas desta vez,
para viver num país diferente, a Itália, no entanto, tudo aconteceu por um
motivo inusitado: “As circunstâncias da vida dão-nos muitas surpresas, no
Koweit eu já tinha renovado contrato, porque ganhámos o campeonato, tínhamos
uma excelente equipa, estávamos a formar aquilo que foi a potencial do futsal
do Koweit nos anos seguintes. Entretanto, o meu representante, que tinha, no
ano anterior, um jogador lá, que foi mandado embora por causa de um ligamento
cruzado, lesionou-se no ligamento e tinha que ser operado, o clube mandou-o
embora, entretanto o meu representante denunciou o caso à FIFA e cinco dias
antes de eu viajar em agosto, o clube cancela as viagens e cancela o meu
contrato, o contrato do treinador e do treinador adjunto, ou seja, em cinco
dias, com as malas todas preparadas para voltar para o Koweit, fomos riscados
do clube. No final de setembro, os plantéis estão fechados, eu não consigo
arranjar equipa, porque os campeonatos estão praticamente a começar e ficamos
os três desempregados. Em outubro, a Luparense, o clube histórico, o clube mais
importante até à data do campeonato italiano, estava a passar por dificuldades
desportivas, contrata o mister Fuentes, que estava comigo no Koweit e uma
semana depois, sabendo da minha disponibilidade, porque era um jogador livre,
decide levar-me com ele, situação que aceitei prontamente.”
Nova
época, novo país, nova experiência, desta vez, na Hungria
Em
semelhança ao que fez no Médio Oriente, Davide Moura esteve apenas um ano em
Itália e na temporada 2016/2017 rumou à Hungria, para representar o maior
vencedor do campeonato húngaro, Gyori ETO. “Uma experiência numa cidade e num
país muito boa. A nível profissional, para além de estar na melhor equipa com
muita diferença, parecia que estava no Sporting, em Portugal, porque nós também
jogávamos de verde e ali éramos muito melhores que as outras equipas, tínhamos
uma estrutura forte, muitos jogadores internacionais por vários países da Europa.
(…) Correspondemos à expectativa, ganhamos a taça e o campeonato, que era o
nosso dever e obrigação, era assim que era exigido dentro do clube e
conseguimos chegar à Elite Round da Liga dos Campeões.”
De
campeão húngaro ao retorno ao Koweit
Foi
campeão húngaro, mas novamente, devido a problemas administrativos foi obrigado
a trocar de clube, o que ditou o seu regresso ao Koweit, desta vez para
representar o Al-Yarmouk. “Na Hungria, o clube tinha condições muito boas para
poder ombrear com as melhores equipas europeias, mas o presidente acabou por
ser apanhado em alguns casos de corrupção e sair era ponto assente. Torna a
tocar o telefone, com uma proposta de outro clube no Koweit, pela mão do
ex-selecionador do Koweit, o espanhol, Luís Fonseca. Naquele ano a Federação
Koweitiana estava suspensa pela FIFA, no futebol, futsal e futebol de praia, só
podia jogar apenas um estrangeiro por equipa e o Fonseca, apreciou o primeiro
ano que estive no Koweit, ligou-me e eu prontamente acedi, porque a nível
financeiro era vantajoso.”, reiterou Davide.
Nova
saída do Koweit e regresso à Itália
“(…)
Na segunda época no Al-Yarmouk, aparece um treinador, Eduardo Lentz, conhecido
como Duda, fizemos mais uma época lá, eu tinha tudo certo para renovar e ficar
o terceiro ano no Koweit, quando o Duda assina em Rieti, por uma das equipas
emergentes, que estava a investir muito forte para tentar ganhar o primeiro
campeonato. O Duda sabia que eu estava para renovar, mas ainda não tinha
assinado e levou-me para Rieti. Eu aceitei prontamente, porque as oportunidades
para trabalhar com treinadores assim são poucas.”.
Subida
de divisão no último ano de carreira e transição para treinador
“Quando
subimos de divisão, eu já tinha decidido que não jogaria a primeira divisão,
questões mais do que tudo físicas. Este ano o campeonato vai começar muito mais
tarde, porque se joga o mundial, o campeonato da Itália vai começar dia 19 de
outubro e acaba na mesma data, são 30 jogos, vão haver muitos jogos a meio da
semana, é habitual na Itália fazerem jornada dupla na semana e expus ao
treinador, que para ter bom rendimento e para poder ajudar o Manfredonia C5, se
calhar tinha que jogar só um jogo por semana e nessa situação, era melhor eles
tentarem outro estrangeiro, que pudesse aportar outro nível à equipa, por isso,
a pensar no clube, despedi-me, disse-lhes que não continuava. (…) Quando disse
ao treinador que não ia continuar ele colocou-me a possibilidade de continuar
como treinador-adjunto dele, despertou em mim uma curiosidade grande, faltou
depois chegar a acordo com o clube, que estava com dificuldades. (…) Quando
conseguiram todas as condições financeiras, fizeram-me uma proposta para eu
continuar, porque, entretanto, ainda não tinha decidido deixar de jogar. Depois
de me fazerem a proposta com as condições todas que estavam pelo meio, foi
claro para mim, colocar um ponto final na carreira de [jogador]”.
Texto:
Diogo Batista
Foto: Márcio Pires
06/08/2024
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