Chaves debate o socorro transfronteiriço em zonas raianas
A prestação de cuidados de saúde transfronteiriços em caso de urgência médica, através da partilha de recursos e meios entre Portugal e Espanha, foi o tema debatido no II Congresso de Urgência e Emergência do Alto Tâmega e Barroso que decorreu durante dois dias em Chaves.
"Emergência sem
Fronteiras" foi o tema escolhido para o II Congresso de Urgência e
Emergência do Alto Tâmega e Barroso, que decorreu nos dias 27 e 28 de setembro,
no Centro Cultural de Chaves. Durante
dois dias, os profissionais de saúde dos dois lados da fronteira debateram o socorro
transfronteiriço em zonas raianas e a importância do projeto-piloto de emergência
médica entre as regiões Norte e a Galiza, que o Governo previa entrar em
funcionamento em toda a fronteira em 2023.
O memorando do “112 Transfronteiriço”
foi assinado em 2022, em Viana do Castelo, mas quase dois anos depois, a
partilha de ambulâncias do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e a
sua congénere galega, a AXEGA, ainda não está no terreno.
A Associação de Profissionais de
Saúde do Alto Tâmega – Crescer em Saúde (APSAT), que organiza pelo segundo ano
consecutivo este debate, colocou a discussão o tema.
“Foi um projeto importante
para as regiões raianas, mas que não passou do papel e então quisemos voltar a
trazer a debate a questão do ‘112 Transfronteiriço’ “, revelou Nuno Pires, sócio
fundador APSAT.
Entre as diferentes vantagens, o
enfermeiro Nuno Pires aponta para ganhos de tempo, cuidados de saúde e de vida.
“As pessoas ganhariam bastante até na referenciação do doente. Se imaginarmos
que temos regiões raianas em que os utentes estão mais perto do hospital de
Verín do que do hospital de Chaves, o socorro seria de uma forma mais célere. Essa
população ganharia de certeza absoluta tempo, cuidados de saúde e de vida”,
salienta.
A partilha de cuidados de saúde
em regiões raianas podia trazer à população portuguesa “proximidade e uma
diferenciação de cuidados”. Já à população espanhola essa diferenciação,
também existiria, adianta este representante da APSAT. “Nós [portugueses] também
temos capacidade de referenciação para centros especializados em determinadas
áreas”.
Também o Presidente da Unidade
Local de Saúde (ULS) de Trás-os-Montes e Alto Douro, Ivo Oliveira, vê vantagens
no funcionamento em rede. “Acho que o ‘112 Transfronteiriço’ foi identificado
como uma boa prática e que podia funcionar nesta região. Não temos nada a opor
e pode ser muito útil a partilha de meios e recursos entre os dois lados da
fronteira. Pode levar a mais coordenação de meios”, assegura.
Neste congresso, a APSAT procurou
colocar as pessoas com poder de decisão local a debater o tema da emergência transfronteiriça
para que chegue aos órgãos de decisão nacionais.
“Sabemos que isto ultrapassa câmaras,
associações e envolve ministérios. A nossa preocupação que temos com o ‘112 Transfronteiriço’
é se um dia acontece uma emergência, uma catástrofe transfronteiriça como se
iria processar, que meios iam atuar e que aspetos legais estariam envolvidos.
(…) Se imaginarmos um acidente em Vila Verde da Raia (Chaves) se calhar,
está tão perto de Chaves como está de Verín e porque não pode haver partilha de
meios?”, questiona Nuno Pires que fala ainda numa situação mais crítica
como a doação de órgãos de utentes espanhóis no sistema de saúde português.
O II Congresso de Urgência e
Emergência do Alto Tâmega e Barroso foi organizado pela Associação de
Profissionais de Saúde do Alto Tâmega – Crescer em Saúde (APSAT), constituída
por médicos e enfermeiros da Unidade Local de Saúde Trás os Montes e Alto Douro
da Unidade de Chaves (ULSTMAD), em parceria com colaboradores do Hospital de
Verín, nomeadamente médicos e enfermeiros, das mais diversas áreas de
especialidade e intervenção.
Além de promover a partilha e atualização de conhecimentos, o evento procurou apresentar uma troca de experiências entre Espanha e Portugal, no que se refere à abordagem do doente crítico em vários cenários, desde a organização em catástrofe, triagem multivítimas, atendimento pré-hospitalar, transporte do doente crítico, o tratamento hospitalar e a abordagem do doente pediátrico em estado crítico.
Sara Esteves
Fotos: APSAT
30/09/2024
Sociedade
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