Tradição do Magusto e aniversário da Misericórdia de Vila Pouca de Aguiar aquecem o coração dos utentes
A Santa Casa da Misericórdia de Vila Pouca de Aguiar juntou duas efemérides na quarta-feira, dia 12 de novembro, com a realização de um magusto e a celebração dos 88 anos da instituição. As festividades tiveram lugar no Lar e Centro de Dia da Nossa Senhora da Conceição, em Vila Pouca de Aguiar, e levaram a tradição da sardinha, carne, castanha e jeropiga aos utentes dos dois estabelecimentos.
Com mesas decoradas a rigor, as
entradas iniciaram um menu bastante típico desta altura do Outono. As sardinhas
foram servidas com batata cozida e pimentos assados, tal como manda a tradição,
às quais se seguiram a entremeada e a febra, com salada de tomate e pimentos
assados. O caldo verde, bem apetrechado com metades de rodelas de chouriço,
veio reconfortar o estômago, ao qual se seguiram diversos pratos de castanhas
bem assadas que, não só se descascavam com uma preciosa facilidade, como
estavam no ponto. A jeropiga entrou para acompanhar a este fruto, numa dupla
que já é bem conhecida de todos.
O momento seguinte foi dedicado
aos 88 anos de atividade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Pouca de Aguiar,
que teve direito a que se lhe cantassem os parabéns em uníssono. Seguiu-se a
partilha do bolo de aniversário pelos presentes, confecionado na casa, que veio
acompanhado de champanhe, no culminar de uma refeição pautada pelo convívio dos
utentes.
“Sentir que as tradições ainda estão vivas”
Domingos Dias, Provedor da Santa
Casa da Misericórdia de Vila Pouca de Aguiar, mantém este tipo de atividades
para os utentes “sentirem que as tradições ainda estão vivas”. Explica que,
neste momento, os utentes têm “para cima de 70 anos de idade e viveram estas
tradições de uma forma muito intensa e muito próxima”.
Reforça ainda a importância de
dar primazia à utilização de produtos autóctones aliada à tradição. “Somos um
concelho onde há muita castanha, muita tradição de magustos, onde sempre se
fizeram magustos espontâneos de associações, de instituições, mas estes idosos
faziam em casa deles, e neste dia de São Martinho, tinham que provar as
castanhas e provar o vinho”. O Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila
Pouca de Aguiar relembra ainda que “também se produzia vinho em Vila Pouca de
Aguiar nessa altura, hoje já se produz menos”.
Reviver o magusto é “lembrar a
família”, diz Domingos Dias, pois “lembra-lhes o passado, a sua juventude,
lembra-lhes aquilo que foi a vida deles e lembra-lhes, se calhar alguns com
saudade, outros com menos saudade, porque também era tempo de mais dificuldades
do que agora”.
“Os magustos eram o momento alto da vida de todos os agricultores”
O Provedor da instituição
contextualiza as datas. “Nós temos o São Miguel, em setembro, num terreno
agrícola, num concelho agrícola, e depois temos o São Martinho, que é o coroar
da agricultura, é a colheita da castanha. Aqui neste concelho, como no de
Valpaços e noutros aqui limítrofes, sempre foi uma riqueza enorme e o juntar da
família e dos amigos para apanhar as castanhas e, depois, no dia de São
Martinho, vamos comer as castanhas com o vinho e com alegria, festa e dança e
passa-se um bocadinho de mais, às vezes, com o vinho”, remata entre risos.
Frisa assim que as tradições “têm que se manter e que se reviver, e estas
instituições são muito importantes para os fazer sentir vivos, que são da nossa
comunidade e que nós gostamos daquilo que eles nos deixaram, que são as
tradições”.
“Só não cumprimos uma parte da
tradição”, avança Domingos Dias, referindo-se à forma de assar as castanhas,
uma vez que antigamente se faziam “nas brasas, que estavam no chão, num buraco,
onde as castanhas ficavam assadas e depois eram tapadas com giestas e terra e
estavam ali um bocado a abafar, que era o melhor método para que as castanhas
transpirassem e depois a casca saía muito melhor”.
88 anos ao serviço das pessoas
O magusto e o aniversário da
instituição são sempre realizados em conjunto. “Faz hoje, dia 12 de novembro,
88 anos que a Santa Casa da Misericórdia foi fundada”. Sobre este aniversário,
o seu Provedor quis demarcar que se sentem agradecidos por ser possível “estar
88 anos a servir as pessoas e ao serviço das pessoas”. Salientou que “temos
muito orgulho e honramos os fundadores que há 88 anos resolveram fundar a Santa
Casa da Misericórdia”.
Em jeito de brincadeira, o
Notícias de Aguiar fez um paralelo e colocou uma questão ao Provedor. Se a
Santa Casa da Misericórdia de Vila Pouca de Aguiar fosse uma idosa de 88 também
teria um lugar no lar? Domingos Dias, alinhando na situação, responde que não
só “seria bem recebida neste lar”, como seria “muito bem tratada”.
A instituição tem cerca de 170
utentes nas suas diversas valências, incluindo os Centros de Dia, as Cantinas
Sociais e o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD).
Texto e fotos: Ângela Vermelho
19/11/2025
Sociedade
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