Do videojogo à realidade: Flaviense Miguel Martins cumpre no Médio Oriente sonho de ser treinador de futebol
Após duas temporadas enquanto treinador-adjunto dos ‘bês’ e sub-19 do Grupo Desportivo de Chaves, Miguel Martins, de 25 anos, viajou até Mascate, capital de Omã, país situado a sudeste da Península Arábica, em busca de ser “finalmente treinador profissional de futebol”.
Depois de quatro épocas consecutivas em auxílio de Gustavo
Souza, assumindo funções de analista e treinador-adjunto, no Juventude de
Pedras Salgadas e GD Chaves, Miguel Martins rumou este verão à Premier League
Football Academy (PLFA), academia de futebol situada em Mascate.
Natural de Soutelo, no concelho de Chaves, Miguel Martins “sempre”
jogou à bola, inicialmente “na aldeia com os amigos” e mais em tarde em “alguns
clubes de Chaves”. Apesar de não conseguir dar continuidade à sua carreira de
jogador, Miguel Martins gostava “muito de futebol e não queria abandonar”,
portanto foi no banco de suplentes que descobriu uma nova vida no desporto rei
em Portugal.
O flaviense, tal como Will Still [ex-treinador do Southampton FC], ficou ainda mais convicto desse
objetivo após começar a jogar o simulador de futebol ‘Football Manager’.
“Eu gostava muito de futebol e não queria abandonar, comecei
a jogar Football Manager, parece cliché, o Will Still também disse que quis ser
treinador porque jogou Football Manager, mas foi mesmo por aí. Comecei a
aprender um bocadinho mais sobre o que é futebol e sobre o que é ser treinador
de futebol”, explicou.
Em 2021, durante o estágio de mestrado, Miguel Martins
começou o seu trajeto no futebol como “analista/treinador-adjunto do mister
Gustavo Souza. Já conhecia o antigo adjunto dessa equipa técnica, o mister
Gabriel Alves, falei com ele, e, a partir daí, foi um processo normal de
mostrar a minha competência”.
Depois de duas temporadas no Campeonato de Portugal, ao
serviço do Juventude de Pedras Salgadas, Miguel Martins rumou, tal como a
restante equipa técnica liderada por Gustavo Souza, até Chaves para comandar a
recém-criada equipa B do Grupo Desportivo de Chaves. Por lá, acabaram por “não
conseguir a tão desejada subida de divisão”, tendo no ano seguinte transitado
para o comando técnico do escalão sub-19, onde na primeira divisão nacional de
juniores, um “campeonato muito difícil, competitivo e com equipas competentes”,
asseguraram a manutenção.
Durante este percurso enquanto treinador-adjunto e analista,
Miguel Martins aventurou-se ainda no scouting, uma vertente que considera
“muito interessante”, embora “difícil de conciliar com as restantes tarefas”.
“Fui scouting do Benfica a nível regional apenas, ou seja,
fazia uma observação dos jogos em Vila Real e depois tínhamos uma aplicação
mais geral do Benfica, onde introduzia os dados dos miúdos que íamos observando
e até era uma situação em que não lucrava nada. Fiz duas épocas de scouting no
Benfica, depois deixei porque era muita carga horária, muitos jogos, muita
coisa para ver e tinha, em simultâneo, o meu trabalho de analista e de
treinador adjunto e não conseguia conciliar. O scouting é uma vertente muito
interessante, não a que mais gosto, mas é interessante”, revelou.
Sabendo de antemão que ser profissional no mundo futebol em
Portugal “é muito difícil, existem poucas oportunidades e não são fáceis de
agarrar”. Miguel Martins viu em Omã, mais concretamente em Mascate, uma
oportunidade para ser “finalmente, treinador profissional de futebol, ou seja,
viver só do futebol, e era esse passo importante que queria dar na minha
carreira”.
Embora considere “muito competitivo e interessante” estar no
GD Chaves ou no Juventude de Pedras Salgadas, a carga horária semanal de 80
horas era um entrave à sua continuidade.
“Estar no GD Chaves ou Pedras Salgadas, estar nesse contexto
era muito competitivo e interessante, estava muito feliz de estar aí, mas tinha
de ter um segundo ou terceiro trabalho. Tinha de ter 80 horas semanais de carga
horária e não queria continuar nesse contexto, quis experimentar outras
realidades”, referiu.
Em solo omanense, o flaviense assumiu, esta temporada, o
comando técnico dos escalões sub-12, 14, 18 e 23 da Premier League Football
Academy, uma academia de futebol privada com equipas desde os sub-4 até aos
sub-23. Este projeto é “pay-to-play, ou seja, os miúdos pagam para estar aqui a
jogar, integrada em contexto competitivo com outros clubes e outras academias,
em ligas privadas criadas este ano pela Federação de Futebol de Omã”.
A viver na capital de Omã, Mascate, cidade com forte influência
portuguesa entre os séculos XVI e XVII, Miguel Martins fala numa “adaptação
difícil” num “contexto extremamente diferente daquilo que encontramos, a nível
cultural, em Portugal”.
“Mascate é uma cidade enorme, Omã é um país lindíssimo, mas
a adaptação foi difícil. É a primeira vez que estou a sair de Portugal para
trabalhar, já tinha saído para ir de férias, mas para viver fora é mesmo a
primeira vez. É um contexto extremamente diferente daquilo que encontramos, a
nível cultural, em Portugal. O clima também é totalmente diferente, estamos em
novembro e estão 36 graus aqui em Mascate, portanto, desde que vim para aqui nunca
consegui usar um par de calças, andei sempre calções (risos). É um país muito
tranquilo, as pessoas são muito amigáveis, cria-se, facilmente, boas relações. Temos,
inclusive, na academia, treinadores que são locais e são muito amigáveis”,
revelou o flaviense.
No que diz respeito ao futuro, o treinador de 25 anos assume
que gostaria de continuar no Médio Oriente, mas não descarta um regresso ao
velho continente.
“O futuro depende daquilo que me forem permitindo, gosto
muito de estar aqui, gosto do contexto do Médio Oriente. Se, eventualmente,
procurar um contexto diferente dentro do Médio Oriente era muito interessante,
uma vez que Omã ainda está muito distante de Emirados Árabes Unidos e Arábia
Saudita na questão da profissionalização do futebol. Procurar algo aqui dentro
desses países um bocadinho mais profissional ainda seria interessante e depois
depende muito daquilo que for surgindo. Se aparecer alguma coisa na Europa,
claro que gostaria de regressar, mas lá está, como disse, tinha de ser uma
coisa profissional para não ter de trabalhar em dois ou três lugares em
simultâneo para viver do futebol, porque no fundo é isso que toda a gente que
quer ser treinador de futebol sonha”, terminou por dizer Miguel Martins.
Miguel Martins é licenciado em Ciências do Desporto pela
Universidade da Beira Interior, mestre em Especialização em Jogos Desportivos
Coletivos pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e detém a
certificação de treinador UEFA B.
Diogo Batista
Fotos: Miguel Martins & PLFA
04/11/2025
Desporto
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